Abaixo recorte de uma Publicação caso tenha dificuldade de pesquisar em outro material.
1.
Gilberto Freyre foi um dos mais importantes sociólogos
do Brasil, tendo construído uma obra inteiramente dedicada à análise das relações sociais no período colonial brasileiro e
como essas relações contribuíram para a formação do povo brasileiro no século
XX. Seu destaque deu-se por defender uma teoria de que a miscigenação formaria
uma população melhor e mais forte, ao contrário do que pensavam as
teorias etnocêntricas, higienistas e eugênicas dos
antropólogos e intelectuais do século XIX e XX.
Enquanto
era comum na época pensar que deveria haver uma pureza racial, Freyre caminha
na contramão disso dizendo que a miscigenação é positiva. No entanto, a sua
obra, apesar de ter uma base antirracista, contribuiu para as críticas aos
movimentos antirracistas por ter formulado uma espécie de mito da democracia racial no Brasil colonial e no Brasil republicano, apontando a
miscigenação como fundamento para essa ideologia.
Leia
também: Surgimento da sociologia no Brasil e no mundo
Biografia de Gilberto Freyre
Gilberto
Freyre, o antropólogo, sociólogo, escritor e político brasileiro que
escreveu Casa-Grande e Senzala.
O
antropólogo e sociólogo brasileiro Gilberto Freyre nasceu na cidade de Recife, Pernambuco, em 15 de
março de 1900. De família tradicional na sociedade
recifense, seu pai, Alfredo Freyre, era professor, advogado e juiz. Freyre
estudou no antigo Colégio Americano Gilreath, atualmente Colégio Americano
Batista, instituição de ensino tradicional dirigida por algum tempo por seu
pai. Freyre despontou-se desde cedo como um talento para a literatura e as ciências humanas. Ainda no colégio, o
sociólogo participou como editor e redator do jornal O Lábaro, produzido pelo
Colégio Americano Gilreath.
Freyre
estudou sociologia, mas não no Brasil, pois ainda não
havia sido fundado o primeiro curso superior de sociologia no país, o que
somente aconteceu em 1933. Em
1918 o intelectual partiu para os Estados Unidos, onde cursou, na Universidade de Baylor, o
bacharelado em artes liberais e a especialização em ciências políticas e
sociais. Na Universidade de Columbia, Freyre cursou o mestrado e o doutorado em
ciências políticas, jurídicas e sociais, defendendo a tese de doutorado
intitulada A vida social no Brasil em meados
do século XIX.
Na
década de 1920, ele retornou ao Brasil após os seus estudos nos Estados Unidos e
várias viagens pela Europa, voltando também a residir em Recife. Em 1926 participou da formulação do Manifesto Regionalista, grupo contrário à Semana de Arte Moderna de 1922,
de caráter nacionalista. Os regionalistas eram contra a “deglutição” da cultura
europeia para formular uma cultura brasileira, defendida pelos
modernistas, valorizando somente aquilo que era originalmente brasileiro.
Entre
1927 e 1930, Freyre foi chefe
de gabinete do governador de Pernambuco,
Estácio Coimbra, e, em 1933, no exílio político provocado pela Revolução de 1930 e com a chegada
de Getúlio Vargas ao poder, publicou o seu mais
famoso livro: Casa-grande e Senzala. Em 1946 foi eleito deputado federal constituinte.
Freyre recebeu vários prêmios e
doutorados honoris causa e foi contemplado com o título de Cavaleiro do Império Britânico, concedido pela Rainha Elizabeth II, da
Inglaterra.
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O que Gilberto Freyre defendia?
Freyre foi na contramão de quase todas as teorias
antropológicas que surgiram no século XIX por
meio de intelectuais como Herbert Spencer. As teorias antropológicas clássicas
eram etnocêntricas e defendiam a supremacia da “raça” branca em relação às
demais. Políticos e intelectuais brasileiros trouxeram tais ideias de “pureza
racial” para o Brasil e tentaram, no início do século XX, um “branqueamento” da
população brasileira como proposta para a melhoria da sociedade.
Para
Gilberto Freyre, a miscigenação era
positiva. Como estudioso de antropologia, Freyre era adepto das teorias do
antropólogo alemão, radicado nos Estados Unidos, Franz Boas. Boas defendia que
a cultura de um povo deveria ser estudada
não em comparação à própria cultura do antropólogo, mas com uma imersão desse
profissional naquela cultura como se fizesse parte dela. Isso permitiria ao
estudioso olhá-la de perto e sem preconceitos.
Para Freyre, o Brasil colonial
apresentou uma sociedade que miscigenou e integrou africanos, índios e brancos,
e era isso que teria formado uma raça mais forte, mais intelectualmente capaz e
com uma cultura mais elaborada.
Gilberto
Freyre ainda recebe duras críticas por conta do conceito de democracia racial.
[1]
·
Teorias de Gilberto Freyre
A teoria mais difundida de Gilberto
Freyre perpassou toda a sua obra. Em Casa
grande e senzala, ela começou a ser
discutida, apesar de ainda não ter sido enunciada. Era a teoria da democracia racial, criticada por
defensores da luta contra o racismo por apresentar-se como um mito de que havia
democracia nas relações entre senhores e escravos no período colonial. Para
Freyre, a miscigenação era um fator corroborativo para pensar-se em uma relação democrática entre senhores e escravos, apesar da relação de escravidão impregnada entre
os dois.
Leia
mais: Movimento negro: luta contra o racismo e pela igualdade social e de
direitos do povo negro
Casa-Grande e Senzala
A obra Casa-Gande e Senzala foi a mais
difundida de Gilberto Freyre,
sendo traduzida para mais de 10 idiomas. A escrita do livro iniciou-se num
momento em que o autor exilou-se em Portugal, por conta da divergência política
com o novo governo de Getúlio Vargas, que chegou ao poder com um golpe em 1930.
Em Casa-Gande e Senzala, Freyre procurou
sair do óbvio nas análises sociais:
política, economia, sociedade em geral. Ele preferiu aprofundar-se em outros
temas: vida doméstica, constituição familiar, formação das casas-grandes (onde
viviam os senhores brancos) e senzalas (onde viviam os negros), para entender o
engenho de açúcar e a propriedade rural como os centros do Brasil colonial.
Uma mistificação que
Freyre ajudou a promover, talvez por influência de seu professor de
antropologia em Columbia, foi a de que a miscigenação e a localização
geográfica do Brasil (na linha tropical) eram fatores negativos que colocavam
o país em uma posição inferior à Europa. A teoria da democracia racial trata-se de uma
mistificação ideológica que Freyre, infelizmente, ajudou a construir baseado na
ideia errônea de que a relação entre senhores e escravos era pacífica, que os
índios aceitaram a colonização de maneira pacífica e que isso promoveu uma
relação democrática e a miscigenação.
Essa visão freyreana, apesar de ter
algum valor para o entendimento da vida colonial no Brasil, não se concretiza.
As análises atuais sobre a desigualdade
social, inclusive, associam verdadeiramente a
desigualdade e a exclusão com a questão social. Talvez o ponto de partida de
Freyre que o levou a formular a teoria da democracia racial (e que era a
relação racial explicitamente segregacionista dos Estados Unidos) tenha o
levado a perceber uma democracia racial no Brasil por haver nele uma relação
mais branda entre negros e brancos.
No entanto, o racismo velado e
estrutural nunca deixou de existir por aqui, e a desigualdade social mostra-se como
um fator fortemente provocado pela escravidão e pela relação de submissão à
qual negros e índios foram obrigados pelo homem branco. Portanto, a tese
principal de Casa-Gande e Senzala parece não se sustentar, ao passo que o livro
constitui uma interessante ferramenta para a compreensão da vida cotidiana da
sociedade colonial.
2.
Sérgio Buarque de Holanda foi um grande
historiador brasileiro, crítico literário, jornalista, acadêmico reconhecido e requisitado em
importantes universidades brasileiras e estrangeiras. Seu livro Raízes do Brasil é
um clássico da historiografia brasileira e uma obra basilar de estudos
sociológicos. Buarque de Holanda introduziu o estudo de Max Weber no Brasil e,
baseado em sua teoria, desenvolveu o
conceito de “homem cordial”,
que, décadas depois, continua sendo um modelo explicativo do homem brasileiro.
2. Biografia de Sérgio Buarque de Holanda
Nasceu
em São Paulo, em 1902. Era filho de Cristóvão Buarque de
Hollanda Cavalcanti, farmacêutico e professor universitário, e Heloísa
Gonçalves Moreira Buarque de Hollanda, dona de casa. Seu pai era pernambucano,
e sua mãe, fluminense. Nascido em uma família
de classe média, Sérgio Buarque estudou nas melhores
escolas de São Paulo, desfrutando de uma formação abrangente e humanista.
Aos 18 anos começou a escrever para o Correio
Paulistano. Nesse período, participou do
movimento modernista e aproximou-se de figuras centrais nesse movimento,
como Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
Em
1921 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde cursou Direito na
Universidade do Brasil (1925). Continuou em contato com o movimento modernista, atuando na revista Klaxon e
na revista Estética. Seguiu trabalhando como jornalista, crítico
literário e editor.
Sérgio
Buarque de Holanda foi um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX.
Em
1929 mudou-se para Berlim como enviado especial d’O Jornal,
para cobrir o desenrolar dos fatos na Alemanha, Polônia e União Soviética.
Nessa época aprofundou seus estudos em História e Ciências Sociais, bem como na leitura de autores alemães. Traduziu
filmes alemães para o português e escreveu para a Revista Duco, publicação
brasileira vinculada à Câmara de Comércio Brasil-Alemanha |1|.
No
contexto de ascensão do nazismo, retornou ao Brasil em 1931, com uma grande bagagem intelectual e com
reflexões manuscritas que seriam a base de seu principal projeto
historiográfico, o livro Raízes
do Brasil. Em 1936 assumiu a vaga de professor
de História da América e Cultura Luso-Brasileira na Universidade do Rio de
Janeiro, que era a capital do Brasil.
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Sérgio
Buarque de Holanda casou-se, em 1936,
com Maria Amélia Alvim Buarque de Holanda,
conhecida como Memélia, com quem esteve unido por toda a vida. Com ela, teve
sete filhos: Heloísa Maria, Sérgio, Álvaro Augusto, Francisco, Maria do Carmo,
Ana Maria e Maria Cristina. No meio artístico, destacaram-se o cantor, compositor
e escritor Chico Buarque; a cantora,
consagrada pela bossa nova, Miúcha (Heloísa Maria); e a ex-ministra da Cultura Ana de Holanda.
Colaborou
como crítico literário para diversos jornais e revistas, como
o Estado de S. Paulo, e cooperou
com a fundação
da Associação Brasileira de Escritores, em
1942, da qual, posteriormente, foi presidente. Também nesse período trabalhou
no Instituto Nacional do Livro e na Biblioteca Nacional.
Em 1946, a família retornou para São
Paulo e Sérgio Buarque passou a lecionar na Escola Paulista de Sociologia e
Política, bem como passou a dirigir o Museu Paulista.
No
início dos anos 50, foi professor de
Estudos Brasileiros na Universidade de Roma,
permanecendo por dois anos na Itália. Em 1957, após apresentação da sua segunda
obra de maior relevância, Visão
do Paraíso, assumiu a cátedra de
História da Civilização Brasileira na Universidade de São Paulo (USP),
onde criou o Instituto de Estudos Brasileiros (IMB), em 1962, e permaneceu até 1969, quando se desligou em protesto ao Ato Institucional nº 5, que
havia cassado alguns dos seus colegas professores. Participou do Centro Brasil
Democrático, grupo opositor à ditadura militar.
Aposentado,
continuou atuando como tradutor, articulista de jornais, ensaísta, coordenador
de uma série de livros sobre a história da civilização brasileira. Foi também
professor convidado em universidades estrangeiras, como a Universidade de Nova
York (1965), Universidade de Columbia (1965), Universidade de Yale (1966) e
Harvard (1966). Ao final da década de 70, atuou na fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).
Sérgio Buarque de Holanda faleceu em
1982, aos setenta e nove anos. Foi um dos maiores pensadores brasileiros do
século XX, reconhecido e prestigiado nacional e internacionalmente.
Veja
também: Paulo Freire: grande nome da educação brasileira que também foi
perseguido e exilado
Sérgio Buarque de Holanda na Sociologia
O
surgimento da Sociologia no Brasil é marcado por
dois grandes ciclos. O primeiro ciclo, denominado pré-científico, ocorreu na segunda
metade do século XIX, durante o Segundo Reinado, quando ainda
não havia universidades no Brasil e o estudo no âmbito das ciências humanas era
feito por juristas e literatos, na intenção de compreender a cultura
brasileira, a identidade nacional e a formação de nossa sociedade.
A
década de 1930, com o surgimento da primeira universidade (USP), tornou-se o
período de transição para o segundo grande ciclo, em que o intercâmbio com professores e estudiosos
de outros países, bem como a formação de estudantes nessa disciplina, propiciou
a produção de uma Sociologia científica, especializada, metódica e
diversificada. Nesse período de transição entre os dois grandes ciclos, duas
obras fundamentais foram produzidas: Casa-Grande
e Senzala, de Gilberto Freyre, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.
Sérgio
Buarque de Holanda introduziu o estudo de Max Weber no Brasil. Weber, um dos três principais expoentes da Sociologia Clássica, desenvolveu sua teoria por meio de tipos ideais,
marcados por um conjunto de características a partir das quais a realidade
poderia ser analisada conforme se aproximasse mais de um tipo ou de outro.
Max Weber foi um dos pilares da Sociologia
Clássica.
Influenciado
por esse método de análise, Sérgio Buarque de Holanda desenvolveu o conceito do homem cordial, um modelo de análise do brasileiro em suas
relações sociais e políticas. Sua interpretação histórica do Brasil foi e ainda
é a narrativa hegemônica sobre o que é o Brasil nas
ciências humanas. Historiográfico e analítico, o livro Raízes do Brasil faz
um diagnóstico histórico e social,
aponta um caminho para a construção de uma nação moderna, liberal e
democrática, bem como capta o tensionamento entre continuidade e mudança da
sociedade brasileira.
Suas obras:
·
Raízes do Brasil (1936)
·
Cobra de Vidro (1944)
·
Monções (1945)
·
Expansão Paulista em
Fins do Século XVI e Princípio do Século XVII (1948)
·
Caminhos e Fronteiras (1957)
·
Visão do Paraíso: Os
motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil (1959)
·
Do Império à
República (1972)
·
Tentativas de
Mitologia (1979)
·
O Extremo Oeste (1986 – postumamente)
Algumas
coletâneas com textos publicados em jornais também foram lançadas após sua morte. Sua
pesquisa acurada e meticulosa se desenvolvia durante anos, por isso suas obras
geralmente são separadas por um considerável espaço de tempo entre uma
publicação e outra.
·
Raízes do Brasil.
Contraponto
A
interpretação do Brasil realizada por Sérgio Buarque de Holanda foi responsável
não só por explicá-lo, mas também por construí-lo. A imagem que hoje temos do
que somos enquanto brasileiros passa pela leitura que esse autor fez do Brasil.
Embora seja um clássico da Sociologia brasileira e tenha influenciado gerações
de intelectuais, sua perspectiva não é unânime. O sociólogo contemporâneo Jessé Souza,
por meio de seu livro A
Elite do Atraso, faz uma
releitura crítica do clássico Raízes do Brasil.
3.
Caio Prado Júnior foi
um escritor, historiador, político, sociólogo, economista, filósofo e editor de
livros brasileiro. Considerado um
dos principais pensadores sobre a formação da sociedade brasileira
contemporânea, o polímata formou-se em Direito e
dedicou-se a entender como o Brasil tornou-se o país que era no século XX.
Dono
de uma vasta obra sociológica, econômica e
historiográfica, o pensador atuou no meio político de
seu país, sendo um dos articuladores da Revolução de 1930, foi livre-docente
em Economia Política pela Universidade de São Paulo e fundou, junto a Arthur
Neto, Maria José Dupré e Monteiro Lobato, a Editora Brasiliense. É
considerado um dos grandes intérpretes do Brasil, junto a Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Florestan Fernandes.
Biografia de Caio Prado Júnior
Caio
Prado Júnior nasceu em 11 de fevereiro de 1907, em uma influente família de políticos
paulistanos, ligados aos mais tradicionais meios sociais da época. Sua primeira
formação foi orientada por um professor particular dos filhos da elite da
época. Em 1918, o sociólogo ingressou no tradicional Colégio Jesuíta São Luís, em São Paulo, para a sua formação secundária. Em
1920, por problemas de saúde de um dos seus irmãos, a família morou em Eastbourn, na Inglaterra, onde o jovem pensador frequentou o Colégio
Chelmsford Hall durante o ano. Ao regressarem para o Brasil, Prado retorna ao
Colégio São Luís, onde concluiu os estudos básicos.
“Formação
do Brasil Contemporâneo” é o principal livro de Caio Prado Júnior. [1]
Em
1928, Prado obteve seu diploma de bacharelado
em direito pela Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, instituição mais tarde incorporada à Universidade
de São Paulo (USP). Como estudante universitário, Prado estudou política e
começou a aventurar-se pela escrita de artigos sobre política, direito e
economia.
Ao formar-se, advogou por um tempo, mas
não levou a advocacia como profissão para a sua vida. A época em que ele viveu
sua juventude, décadas de 1920 e 1930, foi de grande efervescência política e
cultural no Brasil. Também no ano de 1928, o então advogado entrou de vez na
vida política, filiando-se ao Partido Democrático.
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Em
1930, o pensador participou das articulações do golpe
que levaria Getúlio Vargas à presidência e
colocaria fim na chamada “Velha República” brasileira, ou
República Oligárquica “Café com Leite”.
Nos
anos seguintes, ele passou a compor a Aliança
Nacional Libertadora (ANL), uma frente ampla de
resistência contra o fascismo e contra a Ação Integralista Brasileira,
um movimento de orientação fascista, ultraconservador e ultranacionalista que
surgiu no Brasil em 1932. A ANL tinha orientação comunista marxista, foi fundada em 1934 como resposta à
crescente onda conservadora no país, e Caio Prado chegou à frente por conta de
sua filiação ao Partido Comunista
Brasileiro, que ocorreu no início da década de
1930.
Em
1931, nasceu seu filho Caio Graco. Nesse mesmo ano, Prado afastou-se da
república instaurada por Getúlio Vargas, muito decepcionado com os rumos que o
país estava tomando. É nessa época que ele se filia de vez ao Partido Comunista
Brasileiro e passa a fazer oposição
ao regime ditatorial getulista,
que mais tarde teve proximidades com o fascismo italiano e com o nazismo alemão.
Em
1933, Caio Prado viajou para a União Soviética, já comandada por
Stálin. Nesse mesmo ano, ele publicou o seu primeiro livro, Evolução política do Brasil, e no ano seguinte, publicou o livro URSS – um novo mundo.
Em
1934, com a fundação da Universidade de São Paulo, Prado atuou como pesquisador na Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, aproximando-se dos departamentos de
História e Geografia da universidade, e participando da fundação da Associação
de Geógrafos Brasileiros (AGB). Em 1935, o pensador tornou-se presidente da
ANL, o que motivou a sua prisão
política por dois anos. Em 1937 exilou-se na Europa, retornando ao Brasil em 1939.
Em
1942, ele publicou o livro que viria a ser o mais importante de sua obra, Formação do Brasil contemporâneo. Esse livro colocou-o no hall dos
grandes intérpretes do Brasil, ao traçar a historiografia brasileira por meio
de um viés materialista histórico, mas com um pensamento próprio e original do
autor.
De
volta ao Brasil, sua participação política tornou-se mais intensa, o que levou
Prado a obter mais espaço dentro do Partido Comunista, apesar de a direção
nacional do partido não permitir que o pensador ocupasse espaço demais. Em
1943, Caio Prado entra em sociedade com a escritora Maria José Dupré e com os
escritores Monteiro Lobato e Arthur Neto na fundação da Editora Brasiliense, que existe até hoje.
Em
1945, Caio Prado foi eleito Deputado
Estadual de São Paulo como suplente do PCB, e em 1947
foi eleito Deputado da Assembleia Constituinte do Estado. Apesar da eleição de
Prado e de outros membros do PCB, após, um decreto do presidente Dutra cassou a
inscrição do partido e colocou-o na ilegalidade, cassando então o mandato dos
deputados eleitos, e entre eles estava o de Caio Prado Júnior.
O
polímata brasileiro passou a dedicar-se mais ao mercado editorial, estando à
frente da Editora Brasiliense após a morte de Monteiro Lobato, em 1948, e
estando à frente da Gráfica Urupês, pertencente à editora, e da Revista Brasiliense. Em 1954, Prado participou do concurso para a
cátedra de livre docência de economia política na Faculdade de Direito da USP
com a tese Diretrizes para uma política econômica
brasileira. O título de livre-docente foi conferido ao pensador, mas, por questões
políticas, ele não pôde assumir o cargo. A tentativa de ingresso na carreira
acadêmica continuou por parte de Prado, mas ele nunca conseguiu por ser filiado
ao PCB.
Em
1964, a Revista Brasiliense foi fechada pelo governo ditatorial que se
instalou em nosso país naquele ano. Caio Prado exilou-se no Chile e retornou ao Brasil. Após seu regresso, o
historiador e sociólogo, já reconhecido como um dos maiores pensadores do
Brasil, foi preso e condenado em 1970 por subversão por conta
de uma entrevista que ele havia concedido ao Jornal da USP em 1968. Sua pena foi a máxima para o tipo de crime,
seis anos e meio. Em 1971, ele conseguiu um habeas corpus após
recorrer ao Supremo Tribunal Federal.
Caio
Prado Júnior faleceu em São Paulo, aos 83 anos de idade, em 23 de novembro de 1990.
Leia
também: Darcy Ribeiro – outro pensador essencial das ciências humanas do Brasil
Ideias e contribuições de Caio Prado Júnior
O
pensador brasileiro é considerado um
dos maiores intérpretes do Brasil.
Intérpretes do Brasil são historiadores e sociólogos que, a partir do século
XX, dedicaram-se a compreender a complexa formação histórica e social de nosso
país.
Com
uma leitura embasada pelo materialismo histórico dialético de Marx, Caio Prado
realizou uma verdadeira revisão no curso histórico brasileiro, estabelecendo
os pontos do período colonial que moldaram
o Brasil contemporâneo. Apesar da
influência das ideias de Marx, o pensamento do historiador e
sociólogo é completamente original.
Ele
operou um revisionismo histórico que centrava no trabalhador brasileiro o
conjunto de fatos que moldaram a nossa sociedade. Para o pensador, era
necessário operar uma revolução social amparada no preparo dos trabalhadores por
meio da consciência de classe e de uma significativa melhora estrutural na
condição geral do trabalho e dos trabalhadores.
Em
vista dessa intenção de reorganizar o conhecimento historiográfico sobre o
Brasil desde o período colonial com uma visão amparada pela dialética materialista, Caio Prado Júnior enxergou a continuidade e a
sobreposição de efeitos de cada período de nossa história.
Isso significa dizer que o Brasil
contemporâneo era reflexo do Brasil Imperial e do Brasil Colonial. O período
imperial também era reflexo do período anterior, ou seja, o colonial. Dessa
forma, o que vivenciamos no momento presente é um reflexo de vários
acontecimentos históricos passados, não num sentido progressista, mas num
sentido material direcionado pelo acaso.
Assim,
as estruturas de poder foram preservadas, e estudar a
história brasileira para Caio Prado Júnior deve ser entendido como um passo
para mudar a sociedade, transformá-la e distribuir o poder entre as camadas populares, o que ocasionaria em uma sociedade mais justa e igualitária. No
fundo, o que Prado Júnior enxergou é que a visão econômica sempre predominou
sobre o cenário brasileiro, o que resultou na formação de um país tão desigual.
·
Sentido da
colonização
A
nova leitura de Caio Prado Júnior encontra na colonização brasileira as bases
para a formação do Brasil contemporâneo, enxergando de um modo diferente a
relação entre a América e a Europa. O homem branco europeu, segundo Prado, não
tinha aptidão para viver e trabalhar nos trópicos, logo, os colonizadores
buscaram na escravidão a mão de obra para atuar aqui. Assim, desenvolveu-se um
modelo de exploração colonial escravista.
“História
econômica do Brasil” é a principal obra de economia embasada pelo marxismo
escrita por Caio Prado Jr. [1]
Além
disso, o próprio modelo de colonização é ímpar e tem direta relação com a
formação do Brasil contemporâneo: na visão de Caio Prado, a colonização brasileira foi baseada na exploração, e não na povoação (como ocorreu nos Estados
Unidos). Hoje, essa leitura dualista (exploração ou povoação) está um pouco
ultrapassada, pois o modelo de colonização brasileiro assentou-se nessas duas
motivações.
Veja
mais: Democracia racial – conceito bastante distante da realidade presente na
obra de Freyre
Obras de Caio Prado Júnior
O historiador, sociólogo, filósofo e
escritor brasileiro Caio Prado Júnior escreveu e publicou mais de 17 livros,
além de artigos científicos, artigos jornalísticos, críticas e crônicas. Suas
obras mais importantes ou mais difundidas estão descritas a seguir:
·
Formação do Brasil
contemporâneo: publicado
em 1942,
·
História econômica do
Brasil.
·
URSS – um novo mundo:
·
O que é liberdade.
·
O que é filosofia.
4.
Florestan Fernandes foi um sociólogo, antropólogo, escritor, político e
professor brasileiro. De origem humilde, o intelectual brasileiro trilhou os
primeiros 20 anos de sua carreira na Universidade de São Paulo até o ano em que
foi exilado por conta da promulgação do AI-5. Fernandes dedicou-se, no início de
sua carreira, ao estudo etnológico dos índios tupinambá. Após a
década de 1950, o sociólogo passou a estudar os resquícios da
escravidão, o racismo e a difícil inserção da população negra na
sociedade altamente dominada por pessoas brancas.
Leia
também: Paulo Freire: grande nome da educação brasileira que também foi
perseguido e exilado
Biografia
de Florestan Fernandes
Florestan
Fernandes nasceu na cidade de São Paulo, em 22 de julho de 1920.
Sua mãe era imigrante portuguesa e teve apenas Florestan como filho. Sua
madrinha ajudou em sua criação, despertando no jovem o interesse pelos estudos
e pela leitura. Parte da sua infância e de sua juventude aconteceu nos cortiços
das periferias de São Paulo, o que o colocou em contato direto com a sua
origem.
No
terceiro ano do curso primário, que hoje equivale ao Ensino Fundamental,
Florestan abandonou os estudos e foi trabalhar para ajudar a mãe.
Trabalhou como engraxate, em um restaurante e em uma padaria. Com 17 anos, o
jovem voltou a estudar, fazendo uma espécie de curso de normalização extensivo,
no qual concluiu o equivalente a sete anos de estudo em três anos.
Florestan
Fernandes (em pé), o grande sociólogo e antropólogo que denunciou a exclusão
social e racial no Brasil. [1]
Em
1941, com 21 anos de idade, Florestan Fernandes começou o seu bacharelado
em ciências sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, da Universidade de São Paulo (USP). Em 1943 ele obteve a graduação, e
em 1944 obteve a licenciatura em ciências sociais. Entre 1944 e
1946, o sociólogo cursou o mestrado em antropologia pela
Escola Livre de Sociologia e Política, instituição vinculada à
Universidade de São Paulo, iniciando sua pesquisa etnográfica sobre os índios
tupinambá.
Em
1945 ingressou como professor no Ensino Superior, sendo professor
assistente do professor Fernando Azevedo, seu orientador de mestrado e
doutorado, na USP. Na mesma época, filiou-se ao extinto Partido
Socialista Revolucionário (PSR). Em 1947, Florestan defendeu sua
dissertação de mestrado intitulada A organização social dos tupinambá.
Em 1951 o sociólogo defendeu sua tese de doutorado, na USP, intitulada A
função social da guerra na sociedade tupinambá.
Em
1953, Florestan Fernandes tornou-se professor titular interino da USP,
ocupando a cadeira do sociólogo francês Roger Bastide. Em 1964, Fernandes
tornou-se livre docente da mesma faculdade em que se formou,
com a defesa da tese intitulada A inserção do negro na sociedade de
classes.
Em
1964 foi preso por conta de sua atuação política e docente
quando estourou o golpe militar brasileiro.
Em 1969, foi novamente preso, teve seu cargo público cassado e foi
exilado, indo viver no Canadá e nos Estados Unidos, tendo lecionado em
diversas universidades no exterior. Em 1972, Fernandes voltou ao Brasil. Em
1977, ele foi professor convidado na Universidade de Yale, e no
mesmo ano voltou novamente ao Brasil porque foi contratado como professor
titular pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a PUC-SP.
Entre
1987 e 1994, Florestan Fernandes exerceu dois mandatos como deputado
federal eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Sua atuação política
deu-se a favor da redução da desigualdade social no Brasil e da
melhoria da educação pública. Florestan Fernandes participou das primeiras
discussões e da formulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira
(LDB), que foi promulgada em 1996 e registrada como Lei 9.394/96.
Em
1994, Florestan Fernandes precisou ser submetido a um transplante de fígado e
não obteve sucesso, falecendo em 10 de Agosto de 1995, aos 75
anos de idade.
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Ideias
de Florestan Fernandes
Florestan
Fernandes foi um estudioso das relações étnico-raciais no Brasil,
tendo estudado primeiro os índios tupinambá e depois os negros, sempre na perspectiva
da dificuldade da integração democrática desses povos não brancos na cultura brasileira branca. Em um
Brasil que visava a industrialização e a modernidade, e que havia deixado para
trás o colonialismo e a escravidão, fazia-se necessário buscar um modo de
compreender a exclusão social e as estruturas que permitem a exclusão,
sobretudo de pobres e negros, para buscar algum modo de alcançar essa situação.
Para
Florestan Fernandes, a escravidão deixou um legado de exclusão da população
negra.
·
Desigualdade social: Florestan Fernandes viveu a desigualdade contra
os pobres e moradores da periferia. O sociólogo chegou a contar que, mesmo com
a influência de sua madrinha, os empregos que conseguiu quando jovem eram
estigmatizados e nada melhor era oferecido a quem morava nos guetos de São
Paulo. Havia uma desconfiança daquela gente. A desigualdade social marcou a sua
infância, e, na sua visão, superar essa desigualdade era a única possibilidade
da nossa sociedade progredir moralmente.
·
Educação: o único modo de conseguir-se uma sociedade justa
e livre da desigualdade social era, segundo Fernandes, por meio da educação
pública e de qualidade. Fernandes foi amigo e colega profissional do também
sociólogo e antropólogo Darcy Ribeiro. Juntos, os dois elaboraram projetos de
valorização da educação básica e contribuíram com a formulação da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Brasileira.
·
Democracia: defensor de um ensino democrático, de uma democracia das relações
sociais e do acesso aos serviços básicos garantidos a todos os cidadãos,
Fernandes era um democrata. Sobretudo foi defensor de relações democráticas
entre negros e brancos no Brasil. A teoria de Gilberto Freyre de convívio
harmonioso entre negros e brancos no Brasil, chamada por Fernandes de “mito
da democracia racial”, nunca existiu em
um país como o Brasil, que não conseguiu incluir o negro em sua sociedade
capitalista.
Veja
também: Cotas raciais – medidas que visam à democratização da educação superior
pública
A
revolução burguesa no Brasil:
ensaio de interpretação sociológica
Esse
livro de Florestan Fernandes foi publicado em 1975 e lança uma
tese que vai na contramão de muitas teorias sociológicas existentes até então.
Seu autor defende a existência de uma revolução burguesa no Brasil,
um país dominado por outros países no processo colonial. Era um pensamento
comum na sociologia que as revoluções burguesas somente teriam ocorrido nos
países em que dominavam as relações coloniais e imperialistas.
Nessa
obra, a identidade social do Brasil formou-se com base em um conjunto de
relações entre dominantes e dominados e na evolução do capitalismo brasileiro.
Os grandes problemas encontrados no Brasil são, para Fernandes, os grandes
problemas do capitalismo: a exclusão, a desigualdade social, a exploração
da burguesia sobre o proletariado e as consequências do racismo.
A formação
social do Brasil era a de um povo feito de subalterno no
processo capitalista, sendo que o capitalismo aqui não se desenvolveu do
mesmo modo como o foi na Europa e nos Estados Unidos. Para Fernandes, era
necessário entender essa complexa cadeia estrutural para compreender a formação
sociológica brasileira.
Fonte:
Recorte de:
brasilescola.uol.com.br
Crédito
de imagem
[1]
Domínio público / Acervo Arquivo Nacional
Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia
Gostaria de fazer a referência deste texto em um
trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
PORFíRIO, Francisco. "Florestan
Fernandes"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/biografia/florestan-fernandes.htm. Acesso em 25
de fevereiro de 2021.